sábado, 28 de julho de 2007

Sete Pecados na escola


Me espanto toda vez que algum programa de TV – seja um humorístico, seja uma novela – mostra jornalistas trabalhando. As situações em que eles aparecem são sempre estereotipadas: o repórter com um bloquinho ou gravador na mão tentando tirar uma declaração bombástica de alguém que, no momento, não está numa posição muito favorável. Nunca perguntei para outras pessoas se aquilo parecia estranho para elas ou se só quem é do ramo percebe.
Nesses últimos dias, assistindo a Sete Pecados, a novela das 7 da Globo, fiquei prestando atenção em como o dia-a-dia numa escola da periferia de São Paulo é mostrado. Apesar de conhecer um pouco desse mundo por trabalhar há muito tempo em NOVA ESCOLA, pensei se seria capaz de avaliar se o modo de agir de professores, funcionários e diretora causa em quem tem essas funções a mesma estranheza que sinto ao ver repórteres literalmente “correndo atrás da notícia”.
Mirian, a diretora vivida por Gabriela Duarte, acaba de assumir o cargo.Há muito o que fazer na escola, que estava sendo comandada por uma bibliotecária que só espera o dia da aposentadoria. Esse personagem existe, não? Dona Maura, a tal funcionária, é bem caricata. Ela avisa à diretora “idealista” que os alunos ali não têm dinheiro nem futuro e que o negócio é deixar o tempo passar e receber o salário. Meio exagerado, mas será que você já cruzou com alguém como ela na sua escola? Como é de se esperar da filha de Regina Duarte, isso não vai ficar assim. Mirian quer melhorar a escola e acha que o que falta ali é autoridade. Sim, há muitos diretores interessados e envolvidos.
A autoridade dela, no entanto, logo é colocada em xeque por Xongas(Kayky Brito), um aluno que sempre arruma confusão e desafia os professores. É, não são raros os adolescentes encrenqueiros. Depois de ameaçar falar com o pai do garoto, Mirian ouve que precisará esperar o dia da visita na penitenciária, já que ele está preso. Nessa semana, Xongas deu uma jóia de presente a uma aluna. Como há a suspeita de que seria roubada, Mirian chama os pais dele e quem aparece é o tio. O homem diz que a jóia era da mulher dele e que iria falar com o sobrinho. Apesar de ele ter a maior cara de marginal, a diretora ficou toda feliz: o problema ia ser resolvido em família! Hum! Esquisito. Ela não agiria assim.
A situação só piorou. Quando Mirian contou a novidade para o professor Vicente (Marcelo Novaes) – deve rolar um romance aí –, ele logo a alertou para o fato de o tio do garoto ser um marginal. Disse que ela estava “sendo tonta” de acreditar na história e, ainda, que tinha “um amendoim no lugar do cérebro”! Aí, tive a certeza de que muitas professoras ou diretoras estavam sentindo a mesma estranheza que eu ao ver uma personagem com a sua profissão numa situação tão absurda.
Não é preciso esperar o fim da novela para saber que a escola toda pichada vai ficar limpinha e que os professores céticos vão se tornar comprometidos. É o que o público espera. Tanto que em enquete no site da Globo, 90% dos internautas afirmaram que Xongas tem salvação. Agora, é ficar de olho para saber como Mirian vai fazer para conseguir mudar tantas coisas.
No site da Multirio, órgão da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, há uma breve análise de alguns aspectos da trama. As três professoras responsáveis pelo trabalho dão até um conselho a Mirian: fazer um projeto pedagógico para a escola envolvendo toda a comunidade.

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